Um mar de gente ocupou as ruas de Brasília (DF) nessa quarta-feira (24 de maio) em manifestação contra as Reformas da Previdência e Trabalhista, pela revogação da Lei das Terceirizações e pelo Fora Temer. As 150 mil pessoas presentes no ato fizeram do Ocupe Brasília a maior manifestação da capital federal na última década, superando largamente em quantidade de pessoas atos como os de Junho de 2013.
Participaram da manifestação trabalhadores, estudantes e militantes de movimentos sociais de todos os estados do Brasil. O ANDES-SN, com grande bancada presente em Brasília, organizou uma coluna junto à CSP-Conlutas e demais entidades da Educação, na qual defendeu também a construção de uma nova Greve Geral, dessa vez de 48h, como tática para barrar as contrarreformas e derrubar Michel Temer da presidência.
A concentração da manifestação começou nas primeiras horas da manhã, na medida em que os ônibus chegavam de norte a sul do país no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha. De lá, já perto das 12h, começaram a sair os primeiros blocos de manifestantes rumo à Esplanada dos Ministérios. A Polícia Militar (PM) do Distrito Federal, entretanto, realizou revistas nos manifestantes no percurso da Esplanada e impôs bloqueios à entrada de manifestantes na Praça dos Três Poderes, colocando barreiras antes do espelho d’água do Congresso Nacional.
Tão grande era o ato que os manifestantes que estavam na parte de trás demoraram quase duas horas para chegar ao final da Esplanada. Lá, a PM, comandada pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB), cumpriu seu papel de braço armado do Estado e, durante horas de repressão incessante, milhares de bombas foram lançadas contra os trabalhadores, assim como gás de pimenta e tiros de bala de borracha para impedir o direito à manifestação. Ironicamente, o governo do DF, que repete cotidianamente a necessidade de privatizar serviços como os de saúde por “falta de verba”, não se importou com os milhares de reais gastos em equipamentos de repressão policial.
Temer coloca Forças Armadas na rua
Em reação à brutal violência da polícia, manifestantes se defenderam queimando pneus e montando barricadas. O presidente Michel Temer, em um ato utilizado apenas por José Sarney em 1986 e por Dilma Rousseff no Leilão do Campo de Libra em 2013, decretou a “Garantia de Lei e de Ordem” em todo o Distrito Federal até o dia 31 de maio. Temer se valeu da Lei Complementar nº 97/1999 e do artigo 84 da Constituição Federal para colocar as Forças Armadas nas ruas. Segundo o Correio Braziliense, 1200 militares do Exército, Marinha e Aeronáutica rapidamente se apresentaram na Esplanada dos Ministérios para ajudar a polícia de Rollemberg a reprimir a manifestação. Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), comentou a decisão de Temer em sessão na tarde desta quarta. Ele disse ter ficado preocupado com o decreto e acrescentou: “espero que a notícia não seja verdadeira”.
Policiais do DF também utilizaram, indiscriminadamente, armas de fogo letais contra os manifestantes. A Secretaria de Saúde do DF informou que há uma pessoa baleada internada no Hospital de Base. Até o momento, há notícias de mais 80 manifestantes feridos e de mais de sete detidos.
Avaliação
Eblin Farage, presidente do ANDES-SN, avaliou positivamente a manifestação, esperando que o Ocupe Brasília seja um estímulo para manter os trabalhadores brasileiros na rua até a derrota dos projetos de ajuste fiscal e a queda de Michel Temer do poder. “Foi uma manifestação muito positiva. Superou as nossas expectativas de quantitativo de trabalhadores presentes, que era de 100 mil. Colocamos 150 mil pessoas nas ruas, foi uma das maiores marchas da história de Brasília. Foi uma vitória a construção unitária entre as centrais sindicais, assim como a Greve Geral de 28 de abril. É mais uma prova de que quando queremos fazer coisas de forma unitária, temos ótimos resultados. Esse deve ser o caminho para derrubarmos o Temer, barrar as contrarreformas e reverter os projetos que já foram aprovados e retiraram direitos dos trabalhadores”, afirmou a docente.
A presidente do ANDES-SN ressaltou a necessidade de construção de uma nova Greve Geral, dessa vez de 48 horas. “É fundamental construir a Greve Geral de 48 de horas, para, acima de tudo, colocar fim às contrarreformas que, mesmo com o país nessa crise, não pararam de tramitar no Congresso. Ontem, os senadores deram como lido o parecer da Contrarreforma Trabalhista, que foi apenas apresentado na comissão no Senado. É impressionante como, mesmo em meio a uma convulsão social no país, o Congresso Nacional parece estar imune a tudo e continua apressando o processo de votação das contrarreformas. Mais do que nunca, temos que intensificar a construção de uma nova Greve Geral de 48h, e não sair das ruas até que o Temer caia e que as contrarreformas sejam barradas”, concluiu Eblin Farage.