O governo do Paraná, por meio da Policia Militar do estado, transformou a cidade de Curitiba em uma praça de guerra para tentar aprovar o projeto que retira dinheiro da previdência dos servidores estaduais para aumentar o caixa do governo. Cerca de 20 mil manifestantes se concentravam em frente à Assembleia Legislativa para esperar a votação do projeto quando a polícia atacou-os com bombas, cachorros, gás de pimenta, balas de borracha. Segundo o Corpo de Bombeiros, há mais de 100 feridos, muitos em estado grave.
Os servidores públicos estaduais, entre eles docentes das universidades estaduais, professores da educação básica, agentes penitenciários e trabalhadores da saúde e da justiça, estão em greve pela segunda vez no ano – e pelo mesmo motivo: a tentativa de retirada de dinheiro da previdência por parte do governo estadual. No entanto, ao invés de diálogo, eles foram mais uma vez recebidos com muita repressão.
Muitos tentaram se refugiar, feridos, na sede da Prefeitura de Curitiba – que se localiza a poucos metros da Assembleia e do Palácio do Iguaçu, sede do governo. Porém, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), a polícia seguiu atirando contra os manifestantes. Para conseguir dar atendimento médico aos manifestantes e transferir os gravemente feridos para hospitais próximos, a prefeitura curitibana teve que utilizar a Guarda Municipal. Um hospital improvisado também foi instalado na sede do poder público municipal.
Enquanto isso, os deputados da base do governo seguiram na Assembleia, forçando seus pares a encaminhar as discussões e a votação. Nem mesmo o fato de que deputados estaduais de oposição, que saíram da Assembleia para tentar negociar com grevistas e policiais, foram atacados por cachorros da PM foi suficiente para que o presidente da casa, Ademar Traiano (PSDB), adiasse a votação – que segue até o momento de fechamento dessa matéria.
Denny William da Silva, diretor da Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Adunicentro-Seção Sindical do ANDES-SN), está no local e relatou os momentos de repressão vividos pelos servidores paranaenses. “Estamos acampados desde segunda-feira em Curitiba, em conjunto com outras categorias do serviço público estadual. Hoje, conseguimos juntar mais de 20 mil manifestantes, mas o aparato policial do governo foi grande também. Há mais de 4 mil policiais, oito batalhões da Tropa de Choque, cachorros, cavalaria e caminhão de água”, conta o docente.
Ele continua. “Eles abusaram das bombas. Tentamos resistir o máximo possível, mas fomos forçados a recuar. Muitos tiveram que entrar na Prefeitura de Curitiba, que virou um verdadeiro hospital improvisado. Havia também grupos de atiradores de elite em cima dos prédios, sempre atentos às nossas movimentações”, disse Denny. O docente ressalta que os servidores estaduais paranaenses permanecerão acampados em frente à Assembleia Legislativa.
Mudanças na previdência
O governo estadual apresentou recentemente à Assembleia Legislativa uma nova proposta de modificação na previdência, motivo de indignação dos docentes. Ao invés de retirar R$8 bilhões de uma só vez, como propôs no início do ano e teve de recuar por conta da força da greve, Beto Richa (PSDB) quer sacar R$ 140 milhões mensalmente. Para tal, o governo propõe que 33 mil servidores públicos estaduais aposentados deixem de receber diretamente do caixa do estado para ganharem seus proventos a partir do próprio fundo previdenciário.
A medida, se aprovada, transfere dinheiro dos aposentados para o caixa do governo – diminuindo o fundo previdenciário daqueles servidores que ainda não se aposentaram e que, no momento, é superavitário. Não há qualquer previsão de contrapartida do estado ao fundo no projeto do governo. O Sindicato dos Docentes da Uepg (Sinduepg – Seção Sindical do ANDES-SN) aponta que, caso o projeto seja aprovado, a solvência da previdência dos servidores estaduais do Paraná diminui de 57 para 29 anos. Há ainda a proposta de criação de um fundo de pensão, aos moldes do Funpresp (Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Federais), para os servidores estaduais que ingressarem na carreira.
Com informações de APP-Sindicato, Gazeta do Povo, TV 15 e imagens de Prefeitura de Curitiba e Rádio Banda B