O evento Paraná Faz Ciência tem sido amplamente divulgado pelo governo estadual como uma iniciativa para valorizar a produção científica, promover a inovação e aproximar a comunidade acadêmica da sociedade paranaense. Em tempos de negacionismo científico e desqualificação da educação pelo bolsonarismo e congêneres, a iniciativa é importante e parece positiva, estimulando o debate sobre ciência e tecnologia e reconhecendo o papel da ciência e das universidades públicas no desenvolvimento do estado.
Um olhar mais atento, no entanto, identifica várias contradições entre a propaganda governamental e a realidade factual. Paralelamente à propaganda de promoção da ciência, o governo tem implementado políticas de arrocho salarial para docentes das universidades estaduais ‒ já são 47% de defasagem ‒ e solapado a autonomia universitária, restringindo orçamento e tornando as universidades dependentes de editais do Fundo Paraná, encomendas governamentais e emendas parlamentares. De um lado, temos docentes sofrendo arrocho salarial e tendo as suas condições de vida precarizadas; de outro, universidades submetidas a demandas carimbadas e investimentos alheios à avaliação da realidade de cada uma delas e da deliberação das comunidades acadêmicas, além da indução à nefasta dependência do arbítrio de parlamentares e suas emendas, transformando as IEES em palanques para postulantes a novos cargos políticos ou tentativas de manutenção dos cargos atuais.
Com a Lei Geral das Universidades, os orçamentos e quantitativos de pessoal foram normatizados em correspondência aos mais baixos níveis da história, tanto em termos absolutos quanto relativos, pois, em todas as IEES, o crescimento do número de cursos de graduação e pós-graduação e estudantes ultrapassa largamente aqueles de orçamento e pessoal. Portanto, a postura propagandística do governo contrasta com a realidade vivida diariamente nas instituições de ensino superior, onde a escassez de recursos e o desrespeito aos profissionais da educação comprometem os objetivos anunciados. A promoção da ciência não pode ser apenas simbólica; requer investimento contínuo, valorização dos trabalhadores e respeito à autonomia universitária.
O reconhecimento da importância da ciência e da tecnologia deve vir acompanhado de ações concretas para o cumprimento da data-base, boas condições de trabalho, financiamento adequado e respeito à autonomia universitária. Enquanto o governo mantiver políticas de restrição salarial e cortes de investimento, eventos como o Paraná Faz Ciência constituem uma peça de propaganda desconectada da realidade e dos desafios enfrentados pela comunidade acadêmica. Como sabemos, não é o Paraná que Faz Ciência, mas docentes das universidades fazem ciência apesar do violento arrocho salarial e da política de desmonte do governo.
– Ratinho, cadê os nossos 47%?
– Não ao arrocho salarial! Reposição salarial já!
– Não à LGU!
– Pela valorização da carreira docente!